Semana passada, percorrendo os arredores de São Sebastião no curto espaço de tempo de duas horas, deparamos com um cenário nenhum pouco agradável aos olhos e muito menos salutar a qualquer ser vivente. E depois ainda tem aqueles que dizem que cuidam do meio-ambiente como se ele fosse a sua própria casa. Que pena. A depender do homem em sua marcha consumista e a cada dia mais degradante dos espaços naturais, o estado dessa dita (ou desdita) casa é, no mínimo, deplorável, para não dizer o pior.
A ecologia, como sendo o estudo das relações dos seres vivos com o seu meio natural, pode ser entendida em português bem enxuto, como a ação de "cuidar da própria casa". E ai está inserida, inegavelmente, a necessidade de equilibrarmos as relações com o meio e com todos aqueles que nele convivem - homem, natureza e seres vivos.
Os escassos e quase exauridos córregos e nascentes que por aqui ainda resistem a todo tipo de ação antrópica podem estar com os dias contados, e isto graças ao intenso rítimo com que as áreas de preservação ambiental estão se tornando - numa celeridade que amedronta ambientalistas e ecologistas - verdadeiros aterros sanitários, cemitério de automóveis e eletrodomésticos. Móveis velhos, restos orgânicos, resíduos de construção civil, dejetos humanos, ferro velho, animais mortos, plásticos de todo tipo, alumínio, isopor...tudo isso e mais um pouco dá o tom do tamanho da poluição que atualmente toma conta das imediações de São Sebastião. A origem de tanto lixo é diversa: casa dos próprios moradores, supermercados, órgãos públicos locais, áreas nobres de Brasília.
As consequências desta vertiginosa formação de lixões por praticamente todos os bairros já se fazem sentir do alto da entrada da cidade, local de onde anteriormente se avistava um horizonte perdido na imensidão de uma paisagem verde, por dentro e por fora, mas que hoje foi substituída pelo rastro do desmatamento e das queimadas ilegais nos aterros improvisados, pela contaminação e o empobrecimento do solo, pela aberrante inconsciência humana em continuar matando pouco a pouco o muito pouco que lhe resta de vida natural. Isto sem falar nos diversos problemas de saúde que advém do lixo, a exemplo da leptospirose e das velhas compaheiras, dengue e hantavirose.
E a cidade, que outrora fora a vila dos eucalipitos - vila "eucaliptada", por assim dizer- caminha na contramão das leis naturais. É escusado dizer que já somos seres desérticos há muito tempo, não por falta de árvores ou vegetação aqui e ali, mas simplesmente por não amarmos e por não estarmos mais em comunhão com esta grande aldeia global, - casa minha, sua e de todos os seres - que é a mãe-natureza. Dizem que coração de mãe sempre cabe mais um. O da natureza, também. Mas, até quando ele continuará sangrando?
Os fazedores de desertos
se aproximam
e os cerrados se despedem
da paisagem brasileira
Uma casca grossa
envolve meu coração
( Nicolas Behr)
se aproximam
e os cerrados se despedem
da paisagem brasileira
Uma casca grossa
envolve meu coração
( Nicolas Behr)
Por Francisco Neri
Cristino Júnior (Cipó)
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