Nahima Maciel
Para retratar a situação dramática na qual a Colômbia esteve mergulhada durante boa parte do século passado e início deste, Botero não dispensa realismo. Os gordinhos perdem o ar voluptuoso para se transformarem em seres grotescos, ensanguentados, dilacerados e entristecidos. São obras produzidas entre 1999 e 2004, doadas ao Museu Nacional da Colômbia e nascidas da inquietude perturbadora de ver o próprio país desmoronar sob balas e miséria. Ele bem que queria mostrar uma Colômbia amável e alegre, mas não conseguia mais enxergar tal quadro. “A Colômbia também tem essa cara da violência, do drama e há muito sinto que devia dizer algo. Um quadro também é um testemunho de um momento de loucura da nossa história e um artista que tenha capacidade de fazê-lo deve fazê-lo. E senti que devia fazê-lo”, contou o artista, em uma entrevista gravada na época em que realizava as obras.
Durante as últimas décadas, Botero deixou a terra natal para viver na Europa. Não se sentia seguro em meio ao cenário de sequestros, bombas e exércitos paramilitares. Entabulou um exílio voluntário e fincou pé em Paris e Mônaco. O histórico de guerra da Colômbia mudou bastante nos últimos anos. As Forças Armadas Revolucionárias (Farc) enfraqueceram, os Estados Unidos investiram pesado em estratégia militar para conter o narcotráfico e o país se tornou, inclusive, destino turístico para centenas de latino-americanos. No entanto, as pinturas, gravuras e desenhos de Dores da Colômbia tratam de uma história muito recente.
Intervalos como aquele durante o qual produziu as obras dedicadas às mazelas colombianas não são extraordinários na vida do pintor. Em 2006, após ler na revista New Yorker o relato sobre as sessões de tortura protagonizadas por soldados norte-americanos na prisão iraquiana de Abu Ghraib, não conseguiu conter raiva e indignação. Produziu uma série de pinturas tão sangrentas e degradantes quanto o conjunto dedicado à terra natal. Quis expor (e doar) as peças em um museu americano — Botero é convicto quanto a não lucrar com a desgraça alheia — mas ninguém aceitou. As obras foram parar na Universidade de Berkeley, na Califórnia. “A arte é a oportunidade de viver a fantasia e esquecer um pouco a vida real”, costuma repetir. E o engajamento é tão urgente quanto encantar o público.
Natália Bonillia, funcionária do Museu Nacional da Colômbia e responsável pela montagem da exposição no Brasil, sabe que o público não está muito familiarizado com as obras em cartaz na Caixa, mas garante que elas oferecem a oportunidade de ampliar o universo do artista colombiano mais conhecido no mundo. “Não são imagens às quais estamos acostumados, como os personagens gordos, mas eles estão lá e contrastam com imagens bastante fortes da violência. Temos uma ideia de Botero como pintor de gordos, com cores muito fortes, mas nesses a violência é muito evidente. A arte também tem um papel político de olhar o que está acontecendo e falar a respeito”, diz Natália.
Os gordinhos perdem o ar voluptuoso para se transformarem em seres grotescos e dilacerados.
Os gordos de Fernando Botero enganam. Carregados de humor e doçura, conseguem facilmente confundir o público. O colorido intenso e quente e a ironia presente nas composições provocam, num primeiro momento, um sorriso de cumplicidade. Mas nem sempre o pintor colombiano fala de alegria. O cotidiano pode ser bem desagradável e mesmo que os gordos pareçam muito à vontade em suas carnes, Botero sabe pincelar de modo bastante cruel. As 67 obras expostas a partir desta quarta-feira na Caixa Cultural são um parêntese na série de gordinhos e gordinhas felizes que normalmente desfilam pela produção do pintor. Dores da Colômbia trata de uma história sangrenta, de um cotidiano duro e da trajetória de um país marcado por violência, guerra civil e narcotráfico.
Para retratar a situação dramática na qual a Colômbia esteve mergulhada durante boa parte do século passado e início deste, Botero não dispensa realismo. Os gordinhos perdem o ar voluptuoso para se transformarem em seres grotescos, ensanguentados, dilacerados e entristecidos. São obras produzidas entre 1999 e 2004, doadas ao Museu Nacional da Colômbia e nascidas da inquietude perturbadora de ver o próprio país desmoronar sob balas e miséria. Ele bem que queria mostrar uma Colômbia amável e alegre, mas não conseguia mais enxergar tal quadro. “A Colômbia também tem essa cara da violência, do drama e há muito sinto que devia dizer algo. Um quadro também é um testemunho de um momento de loucura da nossa história e um artista que tenha capacidade de fazê-lo deve fazê-lo. E senti que devia fazê-lo”, contou o artista, em uma entrevista gravada na época em que realizava as obras.
Durante as últimas décadas, Botero deixou a terra natal para viver na Europa. Não se sentia seguro em meio ao cenário de sequestros, bombas e exércitos paramilitares. Entabulou um exílio voluntário e fincou pé em Paris e Mônaco. O histórico de guerra da Colômbia mudou bastante nos últimos anos. As Forças Armadas Revolucionárias (Farc) enfraqueceram, os Estados Unidos investiram pesado em estratégia militar para conter o narcotráfico e o país se tornou, inclusive, destino turístico para centenas de latino-americanos. No entanto, as pinturas, gravuras e desenhos de Dores da Colômbia tratam de uma história muito recente.
Intervalos como aquele durante o qual produziu as obras dedicadas às mazelas colombianas não são extraordinários na vida do pintor. Em 2006, após ler na revista New Yorker o relato sobre as sessões de tortura protagonizadas por soldados norte-americanos na prisão iraquiana de Abu Ghraib, não conseguiu conter raiva e indignação. Produziu uma série de pinturas tão sangrentas e degradantes quanto o conjunto dedicado à terra natal. Quis expor (e doar) as peças em um museu americano — Botero é convicto quanto a não lucrar com a desgraça alheia — mas ninguém aceitou. As obras foram parar na Universidade de Berkeley, na Califórnia. “A arte é a oportunidade de viver a fantasia e esquecer um pouco a vida real”, costuma repetir. E o engajamento é tão urgente quanto encantar o público.
Natália Bonillia, funcionária do Museu Nacional da Colômbia e responsável pela montagem da exposição no Brasil, sabe que o público não está muito familiarizado com as obras em cartaz na Caixa, mas garante que elas oferecem a oportunidade de ampliar o universo do artista colombiano mais conhecido no mundo. “Não são imagens às quais estamos acostumados, como os personagens gordos, mas eles estão lá e contrastam com imagens bastante fortes da violência. Temos uma ideia de Botero como pintor de gordos, com cores muito fortes, mas nesses a violência é muito evidente. A arte também tem um papel político de olhar o que está acontecendo e falar a respeito”, diz Natália.
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