Mais um dia dos professores. Com alegria e melancolia. Alegria porque é sim uma profissão maravilhosa. Cheia de satisfações...Melancolia, porque é também cheia de frustações e lamúrias... Você observa os professores que conhece e olha pra eles como fracassados; como se não tivessem conseguido fazer mais nada na vida. Todos acham uma profissão nobre, mas ninguém a deseja para seus filhos.
Alguns dizem que já foi uma profissão muito valorizada! Para mocinhas delicadas que procuravam um bom marido? Não sou Tia e nem professorinha... Sou PROFESSORA !!! Trabalho mergulhada no universo infantil; um mergulho dedicamente planejado para alcançar o aprendizado das crianças.
Educação é ciência. Tem planejamento, método, estratégia, hipótese, avaliação.
Trabalhamos com dificuldade. Não é à toa que tantos professores estão doentes quando não fisicamente , emocionalmente estagnados pelo conformismo e desmotivação.
Há razões para isso que vão além da falta de uma formação qualificada. Os professores se tornaram profissionais de segunda linha,marginalizados. Valem menos, ganham pouco. São ansiosos e estressados. Isso porque o dia-a-dia de uma escola é cansativo e carregado. Uma responsabilidade imensa está sobre seus ombros e quem quiser ter sucesso tem que caminhar com as próprias pernas, suportando o que houver. Ás vezes isso envolve assédios morais, pequenas corrupções, violência física e moral.
Se você quer ser um professor competente e inovador, deve se virar como pode; comprar material para incrementar suas aulas, usar o seu tempo livre para planejar, pesquisar e prepará-las correndo o risco de ser mal visto por outros colegas por essa iniciativa. Afinal, é um paradoxo: quanto mais fazemos coisas de forma “voluntariosa” para atingirmos o objetivo traçado por nossos planejamentos, mas reforçamos a ideia muito presente na sociedade de que a profissão exige uma espécie de “sacerdócio”.
Ao mesmo tempo, se não fazemos tudo isso e trabalhamos apenas com a estrutura que nos é oferecida pelo sistema educacional somos vistos como “mal formados” ou com pouca “força de vontade”.
Essa é a realidade do professor. Tantas coisas dão errado que o profissional não consegue sequer enxergar que teve sucessos. Lida apenas com a frustração e a culpa que são enormes. Ninguém é capaz de educar sozinho em uma sala de aula; a escola toda educa; a sociedade educa; a família educa, a televisão educa. Mas só os professores são responsabilizados pelo insucesso na educação das crianças e jovens.
Você ensina conteúdos e valores todos os dias. Sofre com a carga emocional que lhe é depositada pelos alunos que muitos vezes têm em você o único referencial de adulto. E ao sair pela porta da escola a sociedade ensina que quem é mais esperto leva a melhor, que a injustiça é a pauta nossas relações e que estudar é uma tarefa inútil e cansativa.
"Mas a culpa é dos professores". A revista semanal não perde a oportunidade de dizer o quanto os professores são incompetentes, equivocados e acomodados.
"Mas o professor não ganha um “bônus” se não faltar e se o aluno aprender?"
E para o aluno aprender é preciso apenas ter um professor na sala ( mesmo que esteja doente, que um parente tenha morrido ou que esteja emocionalmente comprometido)? De novo, a responsabilidade é unicamente do professor, independente das condições que lhe são oferecidas para realizar o seu trabalho...
Ainda assim, estou há quase 15 anos na educação, sempre traballhando na sala de aula. Trabalho que amo e odeio. Que me orgulha e me envergonha. Tenho muitos amigos educadores, das mais variadas faixas etárias e penso o que seria de mim ao alcançar os 25 anos que me garantiriam uma aponsentadoria especial. Os que chegam nessa etapa garantindo sua sanidade mental são realmente vitoriosos.
Alguns colegas que alcançaram ou estão prestes a alcançar essa vitória me inspiram. São mais do que guerreiros de verdade, são sobreviventes. O trabalho na sala de aula é prejudicial à saúde: As condições físicas, estruturais, a quantidade excessiva de alunos por turma , de ruídos, de malefícios à saúde são incalculáveis...
Outros colegas estão começando sua trajetória e trazem a esperança e força de vontade estampados num brilho no olhar que me emociona e entristece, pois me lembra que ao longo desses anos vi morrer esse brilho nos olhos de muitos e sinto que ele se apaga nos meus olhos um pouquinho a cada dia...
Penso muito sobre como esses paradoxos e entraves que estagnam a educação brasileira poderiam ser revertidos. E ainda penso em dedicar a minha vida nessa busca.
Como podem políticas educacionais criadas em gabinetes, elaboradas por pessoas distantes da realidade das escolas ser funcional?
Os acadêmicos entram nas escolas para “ensinar” aos professores aquilo que eles já fazem todos os dias. Mas os acadêmicos acham que é pouco, que é ruim e pronto; que professor é folgado. Ignoram seus conhecimentos; esnobam suas altas formações; lidam com os professores desacreditando de forma generalizada de suas práticas e esforços...
Como os professores podem simplesmente implementar políticas que não foram discutidas por eles? Como podem aplicar inovações que não foram debatidas, adaptadas e que, geralmente estão fora da sua realidade de trabalho e de suas ações ?Quem acredita que isso dará certo?
Por que não somos ouvidos sobre aquilo que conhecemos melhor do que ninguém, que é a realidade das escolas e das salas de aula desse país?
Ser professor no Brasil é uma tarefa árdua e sofrida.
Não é sacerdócio; não é só vocação; não é só amor;
É convicção, coragem , batalha e muito, muito trabalho.
Autor desconhecido
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