A
vitória da coligação Um Novo Caminho
nas eleições de 2010, no Distrito Federal, significou para o conjunto da
militância petista, muito mais do que uma vitória emblemática, uma oportunidade
histórica de fortalecer a unidade partidária e de consolidar a atuação do
governo e militantes na defesa firme e consciente do projeto político-social
que está arraigado na gênese do Partido dos Trabalhadores: a constante
intervenção na vida social e política do País para transformá-lo por meio da
organização democrática e participativa.
O cenário
e os vários elementos de conjuntura, naquele momento, aparentemente contribuíam
para que o PT local finalmente entrasse em campo com suas muitas bandeiras de
luta para ocupar os espaços e fazer as mudanças necessárias nas áreas mais
urgentes, enfim, conduzir e orientar as forças internas, as correntes,
tendências e toda a massa militante no chamado novo caminho que, dali por
diante, romperia com velhas práticas e amarras da política praticada por aqui e
se colocaria a serviço da população na luta por um Distrito Federal melhor para
todos e todas.
Mas,
passados quase três anos, e apesar dos esforços, os canais de interlocução
entre o PT, seus militantes, movimentos sociais e sindicais, novos filiados e a
população em geral estão engessados pela burocracia e falta de diálogo, e ainda
pela existência de uma série de práticas que concorrem sobremaneira para
dividir e polarizar o partido, a exemplo da mera ocupação de espaços de poder
por determinados grupos de maneira indiscriminada e apartada do ideário de
militância, de construção coletiva e de fortalecimento permanente do PT.
Neste
Processo de Eleição Direta, independente das chapas – nacional e regional - que
saírem vitoriosas, as zonais de forma geral terão pela frente o desafio de
reavivar e resgatar uma série de ações condizentes com o projeto petista de
governar que incluem, entre outras:
I) A convocação, pela zonal,
de reuniões sistemáticas com os militantes, novos filiados, simpatizantes e
demais pessoas interessadas para que se faça o debate permanente;
II) a utilização de novos instrumentos
e metodologias diferenciados para as atividades de formação política dos novos
filiados adequados às reais necessidades
do coletivo e criação de um canal de comunicação onde as pessoas estejam
efetivamente informadas sobre o que acontece no partido em âmbito nacional,
regional e local;
III) a realização de
debates, seminários e formação continuada com os militantes com vistas à
formulação de novas ideias, troca de experiências, desenvolvimento do
pensamento crítico de dentro para fora do partido e vice-versa, cujo objetivo é
fortalecer e capacitar a militância para atuar intensamente dos espaços e
instâncias do partido para a transformação da sociedade;
IV) a busca de apoio junto
ao diretório do PT-DF para a conquista de um espaço físico que permita
minimamente ao PT de São Sebastião realizar suas atividades periódicas;
V) Produzir um informativo ou jornal periódico do
PT de São Sebastião, como meio de informação direta entre partido e militância
e também como suporte para a divulgação/comunicação das ações governamentais do
partido;
VI) “Criar mecanismos de
interlocução do partido com a sociedade. O PT precisa dialogar mais com os
movimentos sociais e fazer política pra fora;
VII) “Defender uma
candidatura própria para o Senado”;
VIII) “Estimular e apoiar a
criação de novos núcleos de base por bairros como ferramenta para agregar mais
pessoas ao partido e ao mesmo tempo envolver no debate político o cidadão comum
despolitizado e descrente”;
IX) Elaborar um plano de
comunicação visual do partido para divulgação e compartilhamento das ações do
projeto político desenvolvido pela zonal a partir da criação de blog, perfil em
rede social e/ou site;
X) Buscar firmar parcerias do
Diretório Zonal com escolas, entidades sociais e privadas, além de órgãos
públicos para a realização conjunta de ações (palestras, workshops, aulão,
etc.) voltadas diretamente à formação política do público-alvo que atendem;
XI) Criar espaços para o
reconhecimento e valorização dos anseios da juventude com recorte de gênero e
de raça/etnia com o intuito de fazer cumprir as novas resoluções do Estatuto do
Partido dos Trabalhadores que buscam consolidar a democracia interna do partido
a partir do fortalecimento e aperfeiçoamento dos mecanismos de participação política
de todos os militantes;
O PT
precisa de um novo jeito de caminhar. Um novo jeito de caminhar em que se faça
o necessário debate com todas as instâncias que constituem o partido e que permita
se fazer a autocrítica, apontar suas próprias deficiências e mazelas, reconhecendo
que são nos momentos de crise que residem as oportunidades para o crescimento e
para a tomada de decisões importantes.
Queremos
e desejamos um partido no qual a participação nas instâncias seja uma responsabilidade
abraçada por cada militante, um compromisso pessoal, uma atividade permanente a
se coadunar com a atuação cidadã e política.
Um
novo jeito de caminhar exige que estejamos vigilantes a todo o momento em
relação ao artigo 1° do Estatuto do Partido dos Trabalhadores, que nunca será
demais recordar, a saber:
Art.
1° O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma
associação voluntária de cidadãos e cidadãs que se propõem a lutar por
democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais,
institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a
exploração, a dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria,
com o objetivo de construir o socialismo democrático.
Se
queremos e desejamos de fato um novo jeito de caminhar, o PT precisa
restabelecer a sua condição de partido das massas. As experiências constatadas
até aqui exigem que se lancem instrumentos para que a pluralidade de pensamento,
correntes e tendências, que são marcas absolutamente legítimas e fundamentais
para oxigenar o partido, não se transforme num jogo brutal de interesses e de disputa
por cargos e mais cargos e poder e mais poder. Se por um lado, a militância
carece ajudar mais na construção do partido e na sua manutenção, por outro as
instâncias superiores não podem deixar que isto se faça pura e simplesmente às
expensas dos filiados.
Desta
forma, para que isso aconteça na prática, não podemos abrir mão de uma
organização interna que expresse de forma verdadeira, honesta e coerente o
nosso compromisso com a igualdade, a liberdade e o respeito às diversidades e
diferenças, de modo a nos organizarmos feito à imagem e semelhança da sociedade
que tanto desejamos construir.
O Processo de Eleição Direta (PED) é neste
domingo e os desafios não são poucos. O PT, que é reconhecido pela sua
democracia interna, precisa implementar
o seu estatuto, de modo a garantir a isonomia na participação dos/as
seus filiados/as no que se refere às eleições diretas, à garantia de pluralidade
de opiniões, participação financeira, organização em núcleos, diretórios e
setoriais, debates em encontros e congressos, composição da direção considerando
critérios de gênero, geracional e étnico-racial.
Este é o PT que queremos: um partido cujas
ações estejam alicerçadas no socialismo democrático, na justiça social, na
eliminação da extrema pobreza, na distribuição equitativa do poder, do
conhecimento, da renda e da riqueza, na conquista de igualdade social e
garantia dos direitos humanos de brasileiros e brasileiras.
Quanto
às legítimas e necessárias manifestações populares que eclodiram em junho,
temos de reconhecer que o Partido dos Trabalhadores deve abraçar o espírito de
luta que está vivo nas ruas e retomar, a partir das vozes que fazem um
verdadeiro chamado à nação, um novo jeito de caminhar pelo qual possa suprimir
a sensação de ausência do Estado e fazer com que o mesmo se faça mais presente,
atuante e eficiente na implementação das reformas estruturais, no
fortalecimento da democracia, moralização das instituições públicas, e garantia
do acesso às políticas públicas. Os tempos passam, os tempos mudam. Com o PT
não poderia ser diferente. E a prova mais cabal está nas ruas, nos cartazes,
faixas, redes sociais da internet. O clamor popular, por muito tempo incontido
e guardado em cada cidadão ou cidadã, ganhou corpo, desvencilhou-se do
sentimento uno, rompeu as barreiras limítrofes da ideologia pessoal, saiu do
nível individual e passou à perspectiva da coletividade, ganhou as massas, a
exemplo de outros momentos em nossa História contemporânea.
Urge
que tenhamos a sensatez de compreender, interpretar e reaprender com todas as
manifestações que se levantaram e ainda se levantam em cada canto deste País.
Não vamos cair na interpretação rasteira e superficial de achar que tudo não
passa de uma mera conspiração da oposição, mais especificamente dos setores
conservadores e dos grupos de direita que não estão no poder ou simplesmente da
chamada mídia golpista.
Pra
frente, partido! O poder e o governo passam. As manifestações e protestos, não.
Aliás, nem poderiam, pois são a forma mais legítima de dizer para a sociedade
que algo vai mal e que é preciso mudar o rumo das coisas, sob pena de cairmos
no marasmo da alienação e ignorância da realidade que nos cerca. Pra frente, partido,
pois o PT que queremos somos nós que fazemos!
Por
Francisco Neri
Militante
Petista de São Sebastião-DF
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