Nós, moradores e moradoras
da ocupação Vila do Boa, São Sebastião-DF, vimos a público repudiar com
veemência a infeliz e
mentirosa reportagem veiculada pelo telejornal DF Record, da Rede Record de
Televisão, que se utiliza de métodos baixos para atribuir a mais de 130 (cento
e trinta) famílias a culpa
pela suposta ocorrência de atos de violência e bandidagem em um condomínio que
se avizinha à Vila.
É fato cada vez mais comum
assistirmos nos últimos tempos a uma vergonhosa falta de profissionalismo acarretada
principalmente pelo baixo nível de qualidade das informações veiculadas nos
telejornais, marcada pela falta de coerência e ética no desempenho de um ofício
tão louvável quanto útil à sociedade – o jornalismo, o verdadeiro jornalismo.
Hoje, não é bem isso que
se ouve e se ver. O que temos de fato é um sistema que trabalha mais para
desinformar que propriamente informar. A lógica se inverteu e já não se tem
mais um jornalismo verdade a serviço da informação íntegra e confiável. Esta,
agora, é corrompida, forjada, distorcida e notoriamente obrigada a atender os
interesses e conveniências de determinados segmentos da sociedade.
Assim, assistimos a uma
acirrada busca por todo e qualquer fato que cheire a polêmica e ibope – uma
espetacularização banal da vida comum, marcada pela célere corrida que se
observa perpassar da mídia impressa ao próprio telejornalismo.
No dia 21 de agosto de
2013, o DF Record exibiu uma matéria intitulada “Moradores
do Jardim Botânico temem invasão e insegurança”. Na reportagem, quatro moradores do
condomínio Quintas do Interlago, no Jardim Botânico, entrevistados pela
repórter Vanessa Lima, reclamam da insegurança e do aumento do número de
assaltos a residências. Uma das moradoras informa ter tido a própria casa
invadida e assaltada, além de o seu cachorro ter sido envenenado. Conforme a
reportagem, os entrevistados afirmaram que “o problema começou desde que essa
área (leia-se ocupação Vila do Boa), localizada nos fundos do condomínio
Interlagos, foi invadida”, como se o Interlago estivesse em uma área regularizada.
A dita reportagem confirma
a tese de que é muito mais fácil apontar os problemas e as mazelas sociais que
assolam uma comunidade do que propriamente divulgar as coisas boas que nela
acontecem, como a cultura local e outras ações positivas que contribuem para a
melhoria da qualidade de vida das pessoas, a exemplo da III Caminhada da Paz do
Rotary Club de São Sebastião e da II Marcha contra o crack e outras drogas,
realizadas recentemente. E aí fica a pergunta: qual foi a repercussão que a
Record deu a essas duas ações? Nenhuma. E nem é difícil entender o porquê.
Ações assim não dão ibope. Não dão mídia. O que dá ibope mesmo é esmiuçar,
dissecar ao máximo o caos e a miséria sociais! Há uma semana, o Balanço Geral
dedicou tempo significativo do programa na cobertura de mais um brutal
assassinato ocorrido em frente ao mercado Mega Box.
Para nós, moradores e
moradoras do Vila do Boa, a equipe da Record foi parcial, pois
não ouviu ou sequer entrevistou qualquer morador da ocupação. Aquilo foi uma
verdadeira falta de profissionalismo. A começar pelo fato de que a repórter só
ouviu o outro lado da história. Não nos possibilitaram a oportunidade de nos
defender. E se deram ao trabalho de entrar no local para fazer imagens na
tentativa de confirmar a versão dada pelos moradores do condomínio, de que ali
seria covil de assaltantes e bandidos. Parecia que a repórter estava numa praça
de guerra ou no Iraque, pois ela solicitou a presença de uma viatura da Polícia
Militar para entrar na ocupação, além de ter utilizado um colete à prova de
balas.
Portanto, o que vimos foi
a representação da luta de classes, do mais forte contra o mais fraco, a
criminalização da pobreza e da miséria. Por inúmeras vezes já entramos em
contato com o jornalismo da Record solicitando uma reportagem para
que a comunidade possa dar a sua versão sobre os fatos abordados na referida
matéria, mas até o presente momento não fomos atendidos. Queremos e exigimos o nosso direitos de resposta!
Por isso, repudiamos com
toda a veemência a mencionada reportagem que,
lamentavelmente agiu de forma parcial e tendenciosa ao privar os moradores da
ocupação da Vila do Boa de darem a sua versão a respeito das denúncias de atos
criminosos supostamente praticados no condomínio Quintas do Interlago por
moradores da nossa comunidade.
Convidamos, desde já,
qualquer pessoa interessada a conhecer o lugar onde vivemos, inclusive os
cidadãos que deram a entrevista. Se eles não sabem ou não se recordam, muitos
dos pais e mães de família que aqui vivem são os mesmos que, naquele
condomínio, lhes servem o café na mesa, cuidam dos seus jardins luxuosos,
limpam suas piscinas, que cuidam de seus filhos e por aí vai. E não precisa vir
de colete ou armado. Somos desprovidos de recursos, sem-teto e sem chão. Mas
ladrões, não!
Atenciosamente,
Moradores
e Moradoras da Ocupação Vila do Boa, São Sebastião-DF
Nenhum comentário:
Postar um comentário