Chegamos de
vez ao fundo do poço, ou pelo menos já estamos quase lá. É fato cada vez mais
corriqueiro nesses últimos tempos constatarmos uma assombrosa e vergonhosa
falta de profissionalismo acarretada primordialmente pelo baixo nível de
qualidade das informações despejadas goela abaixo no telespectador, pela ausência de coerência
e principalmente ética no desempenho de um ofício tão louvável quanto útil à
sociedade – o jornalismo, o verdadeiro jornalismo. Aquele que é sinônimo de
verdade e transparência em todos os sentidos, mas que atualmente anda meio em
falta .
Hoje, não é bem isso que se ouve e se ver. O que temos de fato é um descabido sistema que trabalha mais para
desinformar e alienar do que propriamente informar o telespectador-leitor-cidadão. A lógica
se inverteu e já não temos um jornalismo verdade para e pela informação.
Esta, agora, é corrompida, forjada, distorcida e notoriamente obrigada a se
adequar plenamente aos interesses e conveniências da banda podre que está por
trás e que controla os grandes grupos de comunicação.
E por assim ser, assistimos bestializados a uma acirrada e interminável
busca por todo e qualquer fato que cheire a polêmica e ibope – uma
espetacularização banal da vida comum, marcada pela célere corrida que se
observa perpassar da mídia impressa ao próprio telejornalismo. Como verdadeiros
urubus a sobrevoarem o céu em vias de disputa por uma boa carniça “dando sopa”
por ai, os veículos midiáticos não medem o menor esforço para chegar à carne
podre e se satisfazerem a contento. Quem chega primeiro tem preferência e,
portanto, faz da “chepa” o que bem lhe convier, inclusive “comê-la” por inteira
e aguardar para mais tarde ter uma feliz digestão. Ou pode ainda comer apenas
uma parte, satisfazendo-se somente em digerir algumas migalhas. Feita a
comilança, a urubuzada sai em revoada. Agora, é esperar do alto, espreitar
atentamente e de olhos bem arregalados qualquer outro foco ou sinal de comida,
qualquer outro cheiro de carne fétida para novamente avançarem rápida e
violentamente para mais uma vez saciarem a gorda fome!
O que a equipe do famigerado DF Record fez em São Sebastião nesta quinta-feira (17/08) foi a proeza de tentar
mostrar, como também já fizera o infeliz Profissão Repórter, da Globo – na ânsia
tresloucada de elevarem seus picos de audiência - que a atividade jornalística já não é encarada
com tanta seriedade, e muito menos com a vontade de buscar a informação em sua
fonte a mais segura possível. Provaram que, mais fácil e menos trabalhoso é
julgar os fatos pelas aparências, o dito pelo não dito, o todo pelas partes. É
preciso lembrar um velho adágio reforçado por Baltazar Gracian em sua A Arte da Prudência: não pode ser bem
entendido aquele que é mal entendedor! Fazer jornalismo é coisa séria, não
ficou pra qualquer um, logo se vê.
Sempre achei que o fazer jornalístico
tinha algo em comum com a literatura. Acabei de constatar que realmente tem
mesmo. Escrever um poema ou um romance talvez não exija conhecimento de causa,
provas verossímeis que se aproximem de uma razoável verdade que convença o
leitor. Mas é óbvio que jamais conseguirei falar precisamente da sensação de
medo se nunca antes na vida a experimentei. Não conseguirei, sequer, dar uma ideia
do sentimento de solidão, se nunca a tive. O máximo que conseguirei será mostrar
uma meia verdade ou uma falsa impressão, o que pode ou não tocar o leitor.
Geralmente não lhe causa efeito.
Assim também é o jornalismo. Eu não posso
falar com a mais alta precisão e verdade absoluta sobre a vida de uma determinada
comunidade, não posso falar dos problemas sociais que por ventura persistam
nela, se a visão que lanço sobre tal ambiente é desfocada, externa e distante,
uma percepção míope, de fora para dentro. Também o que obterei aqui será um
panorama mediano, parcial e naturalmente incompleto. Isso não merece de forma
alguma ser chamado de jornalismo. Ninguém é tão idiota o quanto parece para
receber e digerir algo do tipo. Só mesmo quem adora ser ludibriado.
Chega de achismo. Chega de tanta lavagem cerebral! São Sebastião é muito
mais do que essa imagem medonha e violenta que a TV está tentando vender na
praça. A cidade não é a encarnação da violência e das rixas entre gangues. Ela
também é cultura e tem muita coisa boa para mostrar para Brasília, para o
Brasil e para o mundo. Sempre será mais fácil para os urubus de plantão apontarem
os problemas e as mazelas sociais que assolam a cidade do que propriamente
divulgarem as coisas boas, como a cultura local, o lazer, a gente trabalhadora
e ordeira que aqui reside. É de uma monstruosa insensatez e ignorância
acreditar que a violência e as drogas escolhem lugar, tempo e público para
fazerem o que fazem com as pessoas. Para elas, qualquer lugar é lugar, qualquer
um é qualquer um.
A violência é um problema social e
deriva de muitos fatores. Não nego que esse fenômeno seja um dos nossos
calcanhares de Aquiles, mas, também não nego que a sua perversa persistência se dê na mesma proporcionalidade à ausência do Estado no cumprimento do seu dever constitucional. Quanto
maiores os índices de violência na comunidade, cada vez mais temos a certeza de
o quanto as políticas de educação, cultura, segurança, etc., etc. estão mais
distantes de quem realmente precisa delas.
Valei-me Cazuza. Com todo o respeito aos que fazem o DF Record, é preciso dizer que a piscina
de vocês está tremendamente cheia de ratos, e dos bem grandes. Suas verdades não correspondem aos
fatos! Fica aqui o convite: venham conhecer São Sebastião de verdade, mas
venham mesmo, não fiquem apenas pelas beiradas ou na superficialidade desta
cidade, não façam cerimônias. Venham, mas venham sem máscaras. Venham desarmados dos habituais sensacionalismo e especulação que lhe são próprios, estas duas navalhas que violentam e sangram a reputação da melhor das comunidades.
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